A
crise do coronavírus impactou diretamente no número de procedimentos cirúrgicos
realizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Com a necessidade de realocação
de espaços em hospitais para o atendimento de pacientes com Covid-19 e a
necessidade de suspensão temporária das cirurgias eletivas, o número de
procedimentos registrados no Paraná caiu em quase um terço, com uma redução de
34,66% entre os meses de janeiro e agosto deste ano na comparação com o mesmo
período do ano passado.
Dados do Ministério da
Saúde, tabulados pelo Bem Paraná por meio do Sistema de Informações
Hospitalares do SUS (SIH/SUS), apontam que nos oito primeiros meses deste ano
foram realizados 165.862 procedimentos cirúrgicos em todo o estado. No mesmo
período do ano passado, contudo, haviam sido 253.828 cirurgias.
Considerando o subgrupo do
procedimento, categoria mais abrangente sobre os diversos tipos de cirurgias,
temos que, em números absolutos, as principais reduções foram verificadas em
“cirurgia do aparelho digestivo, órgãos anexos e parede abdominal”, que
passaram de 43.691 para 21.712 (redução de 50,31%), “cirurgia do sistema
osteomuscular” (ossos e músculos), passando de 41.312 para 29.131 (variação de
-29,49%), e “cirurgia do aparelho geniturinário” (relativo ao conjunto dos
aparelhos genital e urinário), com queda de 52,17% (haviam sido 22.700
procedimentos entre janeiro e agosto de 2019 e foram 10.858 no mesmo período de
2020).
Por outro lado, se pegarmos
o caráter do atendimento, temos que as cirurgias de urgência, que não foram
suspensas mesmo em meio à pandemia, tiveram uma queda de 18,28%. Nos oito
primeiros meses do ano passado haviam sido 140.483 procedimentos, número que
caiu para 114.805 no mesmo período deste ano.
Já no caso das cirurgias de
caráter eletivo, que são procedimentos que podem ser agendados e não precisam
ser realizados em caráter de urgência, essa variação foi bem mais
significativa, com redução de 55,52%. Até agosto, haviam sido realizados 49.057
procedimentos desse tipo pela rede pública de saúde do Paraná, ao passo que no
ano passado esse número era de 110.284 procedimentos.
As áreas mais comuns que se
encaixam nesse perfil de atendimento eletivo são as cirurgias para resolução de
problemas ortopédicos, oftalmologia (especialmente casos de catarata),
otorrinolaringologia (responsável por tratar ouvidos, nariz e garganta),
urologia (trata do aparelho urinário) e a cirurgia vascular (especialmente as
cirurgias de varizes).
Catarata
aumenta risco no trânsito, diz associação
Um dos tipos de
procedimento mais impactados é ainda as cirurgias de catarata. Entre março e
agosto, conforme informações do DATASUS, foram realizados 204 mil procedimentos
desse tipo contra 311 mil no mesmo período de 2019 (dados nacionais). Conforme
a Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (Abramet), o dado é alarmante
porque a catarata dobra o risco de acidentes de trânsito.
Além desta redução nas
cirurgias, o oftalmologista do Instituto Penido Burnier, Leôncio Queiroz Neto,
perito em Medicina do Trânsito e membro da Abramet, também alerta sobre o
aumento no número de motoristas dirigindo com carteira vencida, uma vez que
houve a interrupção dos exames de renovação por um período.
Queiroz Neto explica ainda
que a catarata torna opaco nosso cristalino, lente interna do olho. Quanto mais
progride, menor a agilidade na direção. Isso porque, a visão responde por 85%
da nossa integração com o meio ambiente e, portanto, está diretamente
relacionada ao reflexo no trânsito.
Os principais sinais de
alerta são: mudança frequente do grau dos óculos, perda da visão de contraste,
diminuição da visão de profundidade, visão de halos ao redor da luz,
dificuldade de enxergar à noite ou em ambientes escuros.
Mutirões
podem ajudar com demanda represada
Com o arrefecimento da pandemia do coronavírus no Paraná, a Secretaria da Saúde
autorizou no último mês a retomada de procedimentos eletivos em hospitais
privados que não estejam no plano de atendimento Covid-19 ou não sejam
contratualizados pela Secretaria da Saúde. A suspensão das cirurgias eletivas
foi necessária em face da da escassez de medicamentos anestésicos e relaxantes
musculares, insumos importantes para o tratamento de pacientes infectados pela
Covid-19.
Assim que for possível
retomar a cirurgia também nos hospitais públicos, a expectativa é que o Poder
Público organize mutirões para conseguir lidar com a demanda represada. “Hoje
existe uma contratualização com os hospitais que define meta de qualidade e
quantidade de procedimentos. Devemos ter ações pontuais de mutirão na medida
que a Covid passar”, aponta Flaviano Ventorim, presidente da Federação das
Santas Casas de Misericórdia e Hospitais Beneficentes do Estado do Paraná
(Femipa).
Fonte:Bem
Paraná